Segundo o ouvidor da policia de São Paulo o filme retrata a realidade, mas com um pouco de exagero.
Corrupção na polícia, uso da tortura para conseguir informações sobre suspeitos, violência exagerada. Tudo o que retrata o filme “Tropa de Elite”, do diretor José Padilha, que estreou nos cinemas nesta semana, acontece no dia-a-dia de uma grande cidade como São Paulo, afirma o ouvidor da Polícia do Estado, Antonio Funari Filho. No entanto, segundo ele, na vida real os fatos ocorrem em menor intensidade. O G1 levou o ouvidor para assistir ao filme no cinema na noite da sexta-feira (5).
“Tropa de Elite” conta a história de um capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Rio de Janeiro, que, nas vésperas do nascimento de seu primeiro filho, busca um sucessor para deixar o cargo. O filme representa incursões do grupo nas favelas e aborda também a corrupção num batalhão policial que ganha dinheiro para proteger comerciantes e o jogo do bicho.
“O filme mostra a polícia bandida que se outorgou o direito de matar, de fazer justiça”, diz Funari Filho, que não concorda com a visão glamourizada dos policiais de tropas de elite como se fossem policiais especiais. O ouvidor diz ser inadmissível o que chama de violência covarde: torturar e matar uma pessoa já rendida. “É um exemplo do que não deve ser a polícia”, atesta. “Quem comete tortura e mata é bandido, está desrespeitando a lei. Tortura não é admitida nem na guerra. Na guerra pode matar, mas não torturar, porque isso humilha o ser humano”.
O problema, no entanto, está presente na polícia de São Paulo, admite o ouvidor. “Já ouvi falar do uso do saco nas cadeias [no filme, os policiais envolvem a cabeça das pessoas num saco plástico para torturá-las], mas não há ocorrências recentes. Atualmente, o que temos relatos, na PM, é de eles fazerem roleta russa com os suspeitos”, contou. Para Funari Filho, uma polícia competente deve usar a investigação e não métodos violentos. Segundo ele, é um erro pensar que é com violência que se vai conseguir combater o crime organizado. “Se esse tipo de coisa resolvesse, o Rio de Janeiro estaria uma maravilha”.
Na opinião de Funari Filho, policiais que agem dessa forma podem ter problemas psicológicos. Segundo ele, a ouvidoria solicitou à Secretaria da Segurança Pública que anualmente seja feita uma avaliação psicológica dos policiais para que sejam identificados os problemas e as pessoas sejam encaminhadas para tratamento.
"Privatização da segurança"
Quanto ao problema da corrupção, o ouvidor acredita que pode ser minimizado com uma melhor remuneração dos policiais. “É uma atividade estressante, de risco, que precisa ser melhor remunerada”.
Ele também critica a parceria com a iniciativa privada. De acordo com Funari, a polícia não deveria aceitar verba de particulares porque isso configura uma “privatização da segurança” e depois eles podem cobrar em favores o investimento feito.
Platéia
Funari Filho ficou indignado com o fato de a platéia sorrir em várias cenas, inclusive de violência. “As pessoas têm um conceito que é uma guerra e que na guerra tudo vale”, analisa.
Segundo ele, a população tende a querer que a polícia trabalhe de forma violenta contra os bandidos, como se agisse com instinto de vingança o que, segundo o ouvidor, não deve acontecer. “A função da polícia é garantir a ordem, a segurança, mas a população torce para que ela haja como um capanga”.
Fonte: G1
sábado, 6 de outubro de 2007
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