segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Militares alagoanos estão acima do peso

Quando se fala em policial militar, a imagem que vem à mente da maioria das pessoas é de um homem forte, bem preparado, com excelente condicionamento físico e cheio de energia para combater o crime. Mas este não é o retrato da maior parte dos militares alagoanos. Um levantamento de 2009 do Departamento de Educação Física da corporação apontou que 64% dos PMs estava com sobrepeso ou obesidade. O comando admite hoje que 30% dos militares estão “fora de forma”. Em outras palavras, pelo menos um terço dos que fazem a instituição responsável pelo policiamento ostensivo não teria condições de literalmente correr atrás dos bandidos.

Um assunto polêmico foi suscitado na semana passada pelo presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) desembargador Sebastião Costa Filho: a falta de preparo físico dos policiais militares de Alagoas. O desembargador opinou sobre o condicionamento físico dos militares durante uma entrevista coletiva assassinato do subtenente José Roque Carlos, de 49 anos, que aconteceu na última segunda-feira, em frente à Escola Superior de Magistratura (Esmal), local onde o militar trabalhava.

“Às vezes a gente vê um policial com a barriga grande, sem preparo algum. É preciso preparação para a função. Muitos deles são incapacitados”, declarou o desembargador. A declaração foi recebida com furor pelos militares. O primeiro a sair em defesa da categoria foi o presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), major Wellington Fragoso.

Ele defende que, por conta das escalas apertadas, os militares não dispõem de tempo para praticar atividades físicas com a regularidade necessária para o bom condicionamento exigido para o exercício da profissão.

“Os policiais de Alagoas trabalham numa escala de doze horas de serviço por 36 horas de descanso. Eles não têm tempo para fazer nenhum tipo de atividade física e não existe treinamento técnico, mesmo com a determinação no regimento interno da corporação de que a prática de educação física é obrigatória. As associações de militares já denunciaram ao comando que a tropa não tem tempo para participar da educação física”, avalia.

“A polícia não está defasada somente no quesito preparo físico, mas também em treinamento, como tiro ao alvo, novas leis, mudanças de procedimento do Código Penal, já que os policiais estão no dia-a-dia abordando os suspeitos nas ruas, prendendo acusados de crimes, cumprindo mandados de prisão”, completa.

Para ele, dizer que o combate à criminalidade não é eficiente porque parte da tropa está acima do peso não corresponde à verdade. “A polícia tem que acompanhar o crescimento da população. Temos um contingente defasado, insuficiente para garantir a segurança pública, que é um problema para todos os alagoanos. Por isso, estamos cobrando das autoridades a realização de concursos públicos para suprir nossa carência de efetivo e assegurar segurança para nossa sociedade”, ressalta.

Major Fragoso acrescenta que não há militares acima da idade, uma vez que os policiais trabalham em proporção ao seu tempo de serviço e, chegando ao seu limite, seguem para a reserva. No entanto, ele admite que cerca de 70% da tropa tem mais de 45 anos.

ESTUDO REVELA QUE 64% DOS MILITARES ESTÃO FORA DE FORMA

O último estudo realizado sobre a saúde dos policiais militares data de 2009.  Foi pesquisado um universo de 2.060 oficiais divididos em 26 unidades e trouxe um dado alarmante: 64% dos militares apresentavam sobrepeso ou obesidade. A pesquisa foi conduzida pelo major Silvestre, que à época era lotado no Departamento de Educação Física da Polícia Militar.

Os militares foram submetidos à avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC), calculado com base no peso e na altura e que indica de forma subjetiva (já que não avalia os níveis de glicose, triglicerídeos, colesterol, pressão arterial, nem a dosagem hormonal) se a pessoa está com o peso normal, abaixo ou acima do peso.

Também foi levada em consideração a Circunferência Abdominal, relação entre os contornos da cintura e do quadril. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), é que para não ter problemas de saúde desencadeados pela obesidade, os homens não podem ter cintura superior a 90 centímetros. Para as mulheres, essa medida deve ser inferior a 80 centímetros. Neste teste, a maior parte dos os militares foi enquadrada no grupo de risco “moderado” ou “aumentado”, o que significa que eles possuem gordura abdominal elevada e precisam perder peso.

Embora aleguem que não tenham tempo disponível para praticar exercícios físicos ou que seus salários não são suficientes para pagar mensalidade de academia, os militares têm à disposição uma academia completa montada no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap), que é frequentada por um número diminuto de policiais, embora esteja disponível para toda a corporação.

De acordo com o comando da corporação, a declaração do desembargador foi recebida como uma crítica construtiva e deve ter sido feita com base nos policiais que fazem parte da assessoria militar do Tribunal de Justiça. O assessor de imprensa da corporação, major José Oliveira, ressalta que o comando está preocupado com a situação da tropa e admite um percentual menor do que o revelado pelo estudo do major Silvestre, ou seja, segundo os levantamentos do comando, cerca de 30% da tropa teria sobrepeso ou obesidade.

“A corporação implantou o programa ‘PM é Saúde’ que consiste em treinamento físico-miltar, que inclui aulas de step, aeroboxe, caminhadas e corridas. As aulas são oferecidas para toda a corporação, mas como acontecem no Quartel do Comando Geral, em Maceió, nas manhãs de quarta-feira, geralmente são freqüentadas pelos militares dos Batalhões da capital”, explica.

Oliveira lembra que além do programa “PM é Saúde”, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, os militares que estão de folga ou participam do serviço burocrático da corporação tem o horário de 7h às 8h30 livre para atividades físicas, como futebol e musculação. “A tropa tem ainda duas nutricionistas que ficam no Hospital Militar justamente para orientar quem precisa perder ou ganhar peso, além de uma completa academia de musculação, que está aberta de segunda à sexta-feira, das sete às dezessete horas, com orientação de oficiais formados em educação física. Ou seja, só não perde peso quem não quer. Não podemos obrigar nenhum militar a fazer exercícios físicos”, defende Oliveira, em nome do comando da PM.

PREJUÍZOS À SAÚDE E AO DESEMPENHO

Entre os prejuízos à saúde e ao desempenho físicos dos policiais que tem a circunferência abdominal superior a 90 centímetros, a endocrinologista Sandra Maria dos Santos destaca o baixo rendimento nas atividades físicas, cansaço, fadiga e sobrecarga nas articulações, principalmente dos joelhos e tornozelos.

“Sem esquecer do risco de diabetes, aumento de pressão arterial, colesterol LDL (o colesterol ruim) alto, assim como taxas elevadas de triglicerídeos. Uma pessoa que tem pressão alta e desconhece o problema, ou não o trata adequadamente, corre risco de ter um infarto fulminante ou um acidente vascular cerebral (AVC)”, alerta a médica.

Ela ressalta que, independente do tempo de folga disponível para os policiais, cada indivíduo deve buscar pelo menos meia-hora por dia, ou uma hora em dias alternados, para se exercitar.

“Não é só pelo bem do seu trabalho, que exige um bom condicionamento físico, é para a sua saúde. Por mais atribuições que tenha, uma pessoa tem meia-hora todos os dias, se tomar como meta reservar um tempo diário para melhorar sua saúde. Praticar exercícios físicos regularmente é uma forma de viver com melhor qualidade de vida, ter mais disposição para as tarefas do dia-a-dia, mesmo que seja levar o filho para a praia e poder brincar com ele. Quem pratica exercícios tem mais energia para tudo, respira melhor e vive melhor”, destaca Sandra.

Ela recomenda que, antes de buscar uma atividade física, mesmo que seja uma caminhada, as pessoas que levam uma vida sedentária devem buscar ajuda de um profissional. Primeiramente, será avaliada sua condição física para depois serem indicadas as melhores práticas de acordo com o perfil e com o que cada um está apto a fazer.

“Esforços acima do que o corpo agüenta podem desencadear vários problemas nas articulações, coluna e lesões de toda a natureza. Daí a importância de procurar uma ajuda para fazer esta avaliação e buscar uma alimentação mais equilibrada. Deixar o sedentarismo é o primeiro passo para que os policiais que estão com sobrepeso ou já no estágio de obesidade tenham mais disposição para o trabalho e possam alcançar a excelência física que a profissão exige”, frisa.

Fonte: O Jornal Alagoas

Nenhum comentário: