sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Oficiais da PM do Rio usam blogs como 'metralhadoras giratórias'

Desautorizado pelo governador, corregedor da PM usa internet para expor suas idéias. Reações provocam mal-estar na cúpula da segurança pública estadual.

Depois de sugerir que o diretor de ‘Tropa de Elite’, José Padilha, ignorasse uma intimação feita na quinta-feira (11) pelo corregedor interno da PM, coronel Paulo Ricardo Paúl, para que explicasse a participação de oficiais da PM no filme, o governador Sérgio Cabral se esquivou da polêmica. A situação causou mal-estar entre o governo do estado e a Polícia Militar. O assunto começou a circular pelos corredores dos batalhões e chegou a ser comentado nos blogs de alguns oficiais na internet. Para evitar a exoneração de um de seus mais importantes homens de confiança, o comandante-geral da PM coronel Ubiratan Angelo agiu rápido e procurou o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que garantiu a permanência de Paúl, pelo menos por enquanto. Com a folha disciplinar de todos os integrantes da corporação investigados em seus arquivos, Paúl, que está no Rio Grande do Sul participando do 1º Encontro Nacional de Corregedorias Militares Estaduais, é o aliado mais próximo do comandante-geral. Padilha e o ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel, roteirista do filme, acabaram se apresentando à responsável pelo inquérito, tenente-coronel Ana Cláudia Siciliano.

Críticas à política de segurança pública

Dono de um blog próprio, que propõe ser “um espaço democrático para discussão sobre o resgate da cidadania da Polícia Militar”, Paúl também defende os manifestos feitos na internet pelo grupo denominado os Barbonos, que teria sido criado em 2005.Os primeiros a defender as idéias no blog Barbonos foram os coronéis Gilson Pitta Lopes e Hildebrando Esteves. O espaço reproduz comentários, em geral anônimos, com críticas contundentes à política de segurança adotada pelo governo.

Em seus artigos, Paúl nega qualquer pretensão política e diz que é “um coronel da PM que já declarou publicamente, em alto e bom tom que não quer ser comandante-geral e nem chefe do Estado Maior. Não deixo qualquer dúvida de que abdiquei definitivamente de exercer esses cargos ao participar ativamente das mobilizações éticas pelo resgate da cidadania do policial militar. Um cidadão que também já declarou que não tem qualquer pretensão política”. No dia 6 de outubro, ele apresentou “Uma nova proposta para a segurança pública” destinada ao Rio de Janeiro, “onde a situação do descontrole da criminalidade é grave”. Um dos itens critica as grandes operações realizadas nas favelas sem o devido planejamento e investigação.

“Há muito tempo já passou a hora de encerrarmos as verdadeiras operações de guerra que são realizadas constantemente nessas comunidades pela Polícia Militar e pela Polícia Civil e às vezes por ambas, simultaneamente, ceifando vidas de todos os lados e contribuindo para a sensação de insegurança expressa pelo fenômeno das balas perdidas, disparadas por armas de guerra, de longo alcance, os fuzis”.

A Corregedoria da PM e a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia Civil garantem, no entanto, que investigam os comentários feitos nos blogs sobre a corporação. Também seria objeto de investigação o Projeto 200 Anos, espaço de denúncias mantido por vários coronéis. O outro movimento que começa a ganhar destaque na internet é o “Os 40 da Evaristo”, numa referência ao número de policiais que participaram da primeira reunião do grupo e ao endereço atual do QG da PM do Rio, a rua Evaristo da Veiga, na Cinelândia, Centro do Rio.

"Os 40 da Evaristo"

No dia 9 de outubro, representantes desses dois grupos se reuniram no auditório da Academia de Polícia Militar, numa clara pressão por mudanças na política de segurança do governo estadual.

Em um outro encontro, realizado no mês anterior, eles apresentaram os resultados das discussões no site: “1) Decidimos ratificar que a nossa principal reivindicação é a equiparação salarial com a Polícia Civil, na base e no topo das carreiras. 2) Foi constatada a total indignação por parte dos oficiais e praças presentes com relação ao filme “Tropa de Elite”, sendo manifestado apoio integral à ação judicial impetrada por oficiais do Bope contra a exibição do filme nos cinemas brasileiros.”

O tenente-coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, ex-comandante do Bope e atual Superintendente de Planejamento Operacional da Secretaria de Segurança, que liderou o movimento contra o filme “Tropa de Elite”, é autor do livro “Incursionando no Inferno - A Verdade da Tropa”, e foi o primeiro oficial a lançar um blog com o tema, o “Segurança Pública: Idéias, Ações”, em março do ano passado. Seu blog reuniu elogios, pelo tratamento dado ao Bope em seu livro, exaltando a corporação. No mesmo espaço, publicou vários comentários contra o “Elite da Tropa”, de Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Batista, sobre o livro com o mesmo tema que deu origem ao filme. Além dos coronéis, pelo menos um major, um tenente e um capitão lançaram blogs. Todos eles têm um ponto em comum: abordam assuntos ligados à segurança, mas também há reclamações sobre os baixos salários e as condições precárias de trabalho. O comandante-geral da PM, coronel Ubiratan Angelo, foi procurado, através de sua assessoria, mas não respondeu às perguntas feitas desde terça-feira (16), por e-mail.

Fonte: G1

Um comentário:

Anônimo disse...

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