sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Polícia de São Paulo - PM terá novo sistema de vigilância e soldado responderá a comando online

PM terá novo sistema de vigilância e soldado responderá a comando online

Pacote de modernização visa à Copa-14 e prevê de uso de GPS em fardas a monitoramento de ações por câmeras

Marcelo Godoy

A PM vai entrar na era do controle remoto. Novos equipamentos de vigilância, planejamento e comando passam nos testes e começam a ser usados pela corporação. Trata-se do sistema Olho de Águia. O investimento, por enquanto de R$ 9 milhões, faz parte de um pacote de modernização da polícia que inclui pistolas que dão choques e fuzis que perfuram blindados. Acompanhadas pela reforma de seu sistema de ensino, as mudanças são uma das principais apostas do governo José Serra na área da segurança pública.

O sistema Olho de Águia terá supercâmeras em helicópteros e outras acopladas a mochilas com link, levadas por soldados a pé ou em motos. Antenas de retransmissão e estações em vans e em caminhões vão garantir que qualquer computador acoplado à rede da PM receba as imagens ao vivo em um raio de 80 quilômetros. Sensores de calor das câmeras vão diferenciar, por meio de cores, os policiais dos suspeitos em uma perseguição na mata fechada.

É esse o esquema que a polícia deve usar na segurança da Copa do Mundo de 2014 - a polícia do Rio veio conhecê-lo na semana passada. "Vai ser uma revolução", disse o comandante-geral, coronel Álvaro Batista Camilo. A PM de São Paulo será a primeira polícia do mundo a usar esse sistema, que mistura tecnologia americana, israelense e finlandesa. "Não é um produto que se compra em prateleira. Fizemos o projeto e procuramos os equipamentos para realizá-lo", afirmou o major Alfredo Deak Junior, do Centro de Processamento de Dados.

Para o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança, os efeitos desse pacote no crime são limitados. "É preciso mudar a estrutura das polícias no Brasil." O sociólogo Guaracy Mingardi alerta para o fato de que a tecnologia não afastará a necessidade de um oficial comandar in loco a tropa. "O sistema pode ajudar a decidir, a eximir ou apontar a culpa de um policial, mas não dá para comandar a distância."

O novo sistema faz parte da adaptação da polícia à criminalidade atual e à tentativa de ela se tornar cada vez mais detentora de um conhecimento técnico superior. Prova disso é a reforma do sistema de ensino, com a mudança no foco de formação de seus homens. Soldados e oficiais terão o diploma de técnico, bacharel, mestre ou doutor em Segurança Pública, consolidando a polícia como área do conhecimento técnico-científico. "A medida é correta, mas o mestrado e o doutorado deviam ser feitos em universidades e não dentro da PM", disse Mingardi.

É dentro desse contexto que a polícia pretende usar o Olho de Águia. Aliado à instalação de rastreadores nos carros da corporação - 500 das 12 mil viaturas já têm - e de GPSs nas fardas de cada soldado - os testes começam em 2010 -, o novo sistema pode transformar o patrulhamento, a repressão a distúrbios civis e o combate a incêndios em uma espécie de videogame. "O comandante sabe onde está cada pelotão e qual a situação de cada fração da tropa", afirmou o coronel Camilo.

A câmera que equipa os helicópteros da PM - serão três - deu o nome ao projeto. No Brasil, só o Comando de Aviação do Exército tinha até agora a Olho de Águia, que a empregou na segurança do papa Bento XVI. Ela é capaz de travar em um alvo e, independentemente das manobras da aeronave, manter o foco. Um feixe de laser é capaz, à noite, de indicar à tropa em terra onde está escondido um suspeito. As imagens do helicóptero são transmitidas tanto para os quartéis quanto para o comando em terra.

Em um visor portátil são vistas todas as imagens. O visor e os quartéis receberão não só as imagens das aeronaves, mas também as das câmeras levadas pelos soldados - todas as imagens são gravadas. Equipes de três homens em motos equipadas com uma mochilalink serão despachadas para ocorrências graves. Essas equipes terão um homem com treinamento de choque, um especializado em patrulhamento das ruas e um bombeiro.

Se for preciso dominar uma manifestação violenta, será o homem do choque que levará a mochilalink. "Cada pelotão terá um homem com câmera e suas imagens serão transmitidas ao comando", disse o major Deak Junior. No período de testes o sistema foi usado nos protestos em Heliópolis, na zona sul de São Paulo, após uma estudante ser morta por uma bala disparada por um guarda-civil. "Queremos eficiência, pois a polícia só é respeitada quando baixa a criminalidade", disse o major.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
20/11/2009

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