O combate em ambiente urbano apresenta-se como um cenário tático complexo e desgastante. As edificações não só impedem que os soldados tenham campo de tiro e vigilância abertos, como também proporcionam ao inimigo defensivo múltiplas posições de fogo seguras. O grande número de civis na zona de ação pode gerar uma necessidade de auxílio humanitário e limitar as posições e opções da tropa. Nesse contexto, o Teatro de Operações da cidade do Rio de Janeiro é um dos mais complexos do mundo. Em um só terreno ele possui elementos de combate em localidade, selva e montanha. Formar uma tropa que esteja pronta para cumprir missões nestes cenários, que saiba combater em área densamente povoada, contra um inimigo descaracterizado, fortemente armado e que tem a vantagem tática de estar no alto, é um desafio. Quem pensa que uma tropa com estas qualidades foi treinada para lutar na guerra convencional está enganado: ela é uma força policial que opera numa das maiores capitais brasileiras.O Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é uma das unidades policiais mais experientes em combate urbano no mundo. Desde sua criação, há três décadas, o BOPE teve que desenvolver sua própria doutrina de emprego. Ainda hoje, não existem manuais militares e de segurança pública que orientem o emprego de uma tropa em operações como as realizadas nas favelas cariocas.
Vestidos de farda preta, com uma caveira na manga, os policiais do BOPE são a elite da PMERJ. Suas ações ficaram famosas nas telas de cinema, e a forma como opera chegou ao limite que separa as forças de segurança das forças de defesa. O batalhão possui um efetivo de 400 homens e está ligado diretamente ao Chefe do Estado-Maior da Polícia Militar, de quem recebe suas missões. Mantém permanentemente uma companhia de sobreaviso, e para ocorrências que envolvam reféns, o BOPE possui uma Unidade de Intervenção Tática, com negociadores, atiradores de precisão e um Grupo de Resgate e Retomada.Especializado em missões aquáticas, helitransportadas, em ambiente de selva, montanha e com o emprego de explosivos, o BOPE cumpre quase que diariamente missões de combate, onde são recebidos com fogo pesado pelos traficantes. O movimento mais perigoso numa ofensiva em localidade é entre posições, quando os soldados ficam expostos a atiradores e ao fogo de armas automáticas, ficando nitidamente enquadrados nas ruas e edificações. Para proteger a tropa numa incursão na favela, os policiais são apoiados por “snipers urbanos”, uma solução igualmente encontrada pelos Fuzileiros Navais brasileiros para apoiar a progressão dos seus Comandos Anfíbios durante operações no Haiti. Quando os soldados “sobem o morro” e são recebidos à bala, cabe ao atirador identificar a fonte dos disparos e neutralizá-la, para que a força possa progredir com maior segurança.A estrutura física do campo de batalha urbano afeta a utilização de armas e seus calibres, e no caso do Rio de Janeiro, este é um fator agravante, já que se luta uma guerra não declarada contra um inimigo interno por uma força de segurança pública e não militar. Pela sua regra de engajamento a polícia legitimada pelo Estado não está podendo responder com a mesma intensidade e poder de fogo que é recebida pelos traficantes. Em parte, pelo veto do Exército à aquisição de armas de calibre mais pesado como a Ponto 50, necessária à destruição das fortificações construídas pelos bandidos. Para frear a aproximação dos policiais, os traficantes têm reforçado paredes e varandas com concreto, colocando seteiras como pontos de tiros, o que justifica a necessidade de armas de maior calibre. O BOPE em suas ações utiliza basicamente os fuzis dos calibres 5,56 mm e 7,62 mm. A PMERJ se tornou referência por empregar efetivamente um veículo blindado no combate urbano no Brasil. O “caveirão” como é chamado, é uma mistura de carro-forte com ônibus blindado. Longe de ser satisfatório, é a única forma de prover segurança à tropa que patrulha as áreas conflagradas, ou em missões de resgate de policiais feridos. Há um estudo para o desenvolvimento de um veículo blindado nacional, para operações de segurança pública, e para a aquisição de modelos israelenses e sul-africanos. Para o BOPE, a utilização de veículos blindados no combate está longe de ser a ideal, mas é uma realidade que veio para ficar.Nas favelas do Rio, os narcotraficantes têm cavado fossos e colocado obstáculos de concreto, trilhos de trem e pedras para impossibilitar a entrada do Caveirão. A exemplo das condições operacionais enfrentadas pelas tropas da ONU no Haiti, o BOPE teve que incorporar uma máquina escavadeira para fazer a desobstrução das vias para que os blindados pudessem passar: é a engenharia de combate sendo utilizada pela primeira vez em ações policiais no Brasil.
A realidade enfrentada pela polícia nas favelas do Rio é semelhante a das tropas da OTAN no Afeganistão. A resistência imposta pelo Talibã, que tem as ações de guerra assimétrica patrocinadas pelo lucrativo negócio da papoula aproximam Cabul e Rio de Janeiro. Hoje, o perigo que corre um ocidental ao transitar em certas áreas da capital afegã é o mesmo de um policial ou militar que passe pelas zonas conflagradas da capital fluminense.Para a Copa do Mundo de 2014, o BOPE pretende adquirir uma série de equipamentos para a detecção de explosivos e missões táticas especiais. O batalhão espera poder adquirir a metralhadora Minimi e outras de maior calibre assim como substituir parte dos seus fuzis de assalto já desgastados pelo uso. Para o comandante do BOPE, Tenente Coronel Paulo Henrique, a unidade está “com um processo em andamento, objetivando a renovação de parte da dotação de armamentos. Nós buscamos os melhores equipamentos, e a respeito da padronização, buscamos armas que atendam a determinados objetivos operacionais e, dadas as missões desta unidade especial, não há como trabalharmos com um só calibre ou um só tipo de arma”.O BOPE não é a solução para a segurança pública no Rio, mas é a garantia de que quando o Estado quiser se fazer presente, ele o fará.
BOPE – Como ingressar
O Batalhão de Operações Policiais Especiais possui dois cursos que habilitam o policial a integrar seu contingente. O Curso de Ações Táticas é destinado a preparar combatentes urbanos e tem duração de cinco semanas. O Curso de Operações Especiais, com duração de dezessete semanas, é destinado a preparar combatentes para missões especiais, tais como combate urbano, operações marítimas, subaquáticas, em montanha, em área de selva e de demolição.Os cursos são abertos a policiais militares da ativa, de todos os postos e graduações, sendo que o número de vagas varia de acordo com a necessidade da unidade. Historicamente, o percentual de alunos que concluem o CAT e o COEsp gira em torno de 30% do número de matriculados. O CAT é realizado anualmente, podendo haver mais de um curso por ano, enquanto o COEsp acontece a cada dois anos. A seleção se dá com provas físicas (classificatório), exames médicos, psicológicos e uma entrevista (eliminatórios).
Clique aqui e veja fotos dos integrantes do BOPE em ação.
Fonte: Defesanet
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