quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Moradores do Itaim Paulista enfrentam PMs após enchente

Policiais usaram bomba e gás para dispersar 500 pessoas; 2 ônibus foram incendiados
Bruno Ribeiro e Elvis Pereira

Mais de 500 manifestantes e policiais militares entraram em confronto na madrugada de ontem no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, durante um protesto de moradores do distrito mais castigado pela chuva da noite de anteontem. O transbordamento de um córrego não canalizado e com lixo nas margens levou a população a fazer barricadas com colchões e móveis nas ruas. Três veículos foram incendiados.

Os PMs responderam com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Após quatro horas de conflito, ninguém ficou ferido nem foi preso. Os moradores saíram às ruas por volta das 23 horas, após o nível do Córrego Lajeado subir e invadir suas casas. Foi o segundo protesto realizado na região por causa de enchentes.

"Nas outras enchentes, a água vinha até a garagem, mas desta vez entrou na casa inteira", afirmou Aline Souza Canuto, moradora da Rua Lagoa Cajuba. "Toda vez que chove é o mesmo problema", lamentou Everaldo José da Silva, de 49 anos, cujo Corsa fora inundado na garagem. "Ninguém dorme mais sossegado."

O alagamento se transformou em revolta e parte dos moradores do bairro bloqueou a Estrada D. João Néri e ruas paralelas. Inicialmente, eram 70 pessoas. Uma hora mais tarde, o grupo subiu para 200 e, pouco depois, para 500.

Foram queimados um caminhão e dois ônibus. Um deles, da Linha Jardim dos Ipês-Terminal A.E. Carvalho, seguia para a garagem. O outro, que ia de Cidade Tiradentes para São Miguel, estava com passageiros, que foram obrigados a sair.

"A manifestação até certo ponto é aceitável", afirmou o capitão Sérgio Marques. "O problema é quando ela tem fechamento de vias com pneus e veículos queimados e provoca desordem pública." Os policiais recorreram a bombas e balas de borracha. O protesto teve fim por volta de 3 horas de ontem. Até 5h15, no entanto, a Estrada D. João Néri ficou interditada.

NOVAS AÇÕES

Ao longo do dia, as tentativas de moradores de obstruir as ruas eram controladas rapidamente pela polícia. Os PMs acompanharam o trabalho de limpeza da Prefeitura e de vistoria da Defesa Civil.

O órgão interditou 28 imóveis no bairro, entre eles parte da Escola Severino Fabriani. Os muros da quadra esportiva, que estava vazia, caíram. "Uma terceira parede terá de ser demolida parcialmente", disse a diretora Simone Aparecida Silva. Segundo ela, as aulas dos 210 estudantes, todos deficientes auditivos e com idade entre 2 e 14 anos, não serão prejudicadas. Oito famílias foram desalojadas.

No dia 8, 200 moradores do Jardim Romano já haviam entrado em confronto com PMs na frente da Prefeitura, também por causa de inundações. A área, que enfrenta alagamentos desde dezembro, também voltou a inundar anteontem.
Fonte: Estadão

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