domingo, 10 de janeiro de 2010

Segurança nos Aeroportos - Privacidade e eficiência do scanner corporal causam polêmica

RIO - Desde quando um nigeriano treinado pela Al Qaeda conseguiu passar pela segurança do aeroporto de Amsterdã, no dia de Natal, transportando 80 gramas de um explosivo conhecido como PETN, começaram a aparecer países interessados na compra de scanners de corpo inteiro, com o objetivo de reforçar a segurança em seus aeroportos. Mas a tecnologia, que produz uma imagem em três dimensões e desvenda o corpo nu do passageiro, vem causando polêmica. Tanto para organizações que defendem a privacidade, quanto para quem que já se incomodavam em ter de retirar sapatos, cintos e casacos em frente a fiscais de segurança aeroportuária, a adoção desses scanners tem causado fortes reações contrárias.

Um agravante é a incerteza sobre quais substâncias os scanners serão capazes de detectar. Se o próximo terrorista vier com líquidos na cueca ou com um supositório bomba, será que conseguiria embarcar? Os fabricantes das modernas engenhocas não garantem a resposta.

“Agora que uma pessoa perturbada conseguiu embarcar com explosivos dentro de suas roupas, vozes desesperadas querem que a TSA (a agência de segurança de transportes americana) analise as imagens de corpo inteiro de cada passageiro – e isso representa mais de 2,5 milhões de pessoas por dia só nos voos domésticos dos EUA”, denunciou, em comunicado, a ONG União Americana de Liberdades Civis (Aclu)

Os EUA, de longe os mais entusiasmados com a tecnologia, já dispunham de 40 scanners em 19 aeroportos antes do atentado, e anunciaram que, até o fim deste ano, irão instalar entre 150 e 300 novas máquinas. Holanda, França, Itália, Reino Unido e Nigéria também anunciaram a adoção imediata dos scanners. Em países como Suíça e Alemanha, a tecnologia é vista com bons olhos, e os especialistas acreditam que, se for adotada no âmbito da União Europeia, acabará chegando a todos os países do bloco em um prazo entre dois e cinco anos.

O Brasil, que hoje não dispõe da tecnologia, está avaliando o custo/ benefício de um eventual investimento para a compra de scanners e deve anunciar em breve se adotará a medida, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As máquinas custarão entre US$ 100 mil e US$ 170 mil cada, dependendo do modelo.

Como funciona

Existem dois tipos de scanners capazes de ser utilizados em aeroportos. Até agora, os EUA usavam apenas os aparelhos com a tecnologia de ondas milimétricas, na qual duas pequenas antenas emitem sinais de rádio que atravessam tecidos comuns, mas rebatem sobre o corpo para criar a imagem tridimensional. Na tela, a imagem assemelha-se ao negativo de uma foto, com o rosto embaçado para não revelar a identidade do passageiro. Os novos scanners, por sua vez, usam uma tecnologia chamada de backscanner, na qual duas caixas geradoras de raios X emitem ondas de baixa frequência para formar a imagem. Os backscanners, segundo os fabricantes, são mais precisos e oferecem imagens mais detalhadas, capazes de identificar minúsculas anomalias por baixo das roupas.

Incertezas

Apesar da súbita procura pelos scanners, muitos especialistas acreditam que nem mesmo o aparelho mais sofisticado seria capaz de revelar a presença de materiais de baixa densidade, como explosivos em pó ou líquidos, levantando duvidas sobre o real benefício da nova tecnologia.

– Achar que a simples instalação de scanners irá nos proteger do terrorismo é uma espécie de pensamento mágico, que eu chamo de teatro da segurança – afirma Bruce Scheier, consultor de tecnologia da segurança nos EUA e autor de vários livros sobre o tema. – Conseguimos impedir a entrada de armas e bombas em aviões, e os terroristas usaram cortadores de caixa como facas de ataque. Nós tiramos os cortadores de caixa e saca-rolhas, e os terroristas esconderam explosivos em seus sapatos. Tiramos os sapatos e eles tentaram usar líquidos. Proibimos líquidos, e eles costuraram PETN em suas roupas íntimas. Implementamos scanners de corpo inteiro, e eles vão fazer outra coisa. Este é um jogo estúpido que devemos parar de jogar.

Advogados britânicos defensores dos direitos das crianças tambem levantaram a questão de que submeter um menor de 18 anos ao scanner violaria as leis contra a pornografia infantil. Enquanto o país debate a questão nos tribunais, os scanners estão explicitamente proibidos de serem aplicados em menores na Grã-Bretanha.

Defensores

Quem defende o uso do aparelho argumenta que as medidas, se não eliminam, pelo menos coíbem ou dificultam a ação de terroristas. No último episódio, eles tiveram de recorrer ao uso de PETN, uma substancia difícil de explodir, dizem. Além disso, “uma bomba detonando dentro de um avião é a maior invasão de privacidade que uma pessoa pode experimentar”, fulmina Jon Adler, presidente da Associação Federal de Agentes de Segurança dos EUA.

Apesar da polêmica, a submissão aos scanners de corpo inteiro ainda é voluntária nos EUA, podendo o passageiro optar pela revista manual. Os agentes que examinam as imagens produzidas pelos scanners não entram em contato com os passageiros, pois são isolados em uma sala separada do local onde se executam os escaneamentos. Se não encontram nada suspeito, apertam um botão que indica aos outros agentes que o passageiro não representa ameaça. Quanto à questão da exposição adicional a raios X, a Agência de Segurança de Transportes dos EUA diz que as máquinas emitem doses “equivalentes à radiação ambiente absorvida em dois minutos de voo”.
Fonte: Jornal do Brasil

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