Os confrontos entre o tráfico e a polícia, em junho de 2007, no Complexo do Alemão, onde num só dia 19 bandidos foram mortos, alertaram os órgãos de segurança pública para a necessidade de se antecipar às táticas de guerrilha urbana usadas pelos criminosos. Naquele mês, a PM chegou a recolher 220 toneladas de concreto, pedras e trilhos de trem das barreiras montadas pelos traficantes para impedir o acesso dos veículos blindados, atualmente o principal alvo das quadrilhas na guerra contra a polícia. Além de novos equipamentos já comprados e na lista de futuras aquisições da PM, oficiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estão fazendo cursos na Colômbia para detectar armadilhas montadas por terroristas com bombas e minas terrestres.
Há 15 anos no Bope, o atual subcomandante, o major René Alonso, de 42 anos, é um dos oficiais que se especializaram no assunto:
- Temos que estar preparados. A Colômbia é um país próximo da gente, tanto em distância, como nas semelhanças na área de segurança. Lá, por exemplo, houve uma disseminação de minas improvisadas. Não é difícil que isso migre para cá.
Por uma questão de segurança, o militar preserva os detalhes sobre os cursos e o número de oficiais preparados pelos colombianos:
- Os cursos na unidade de operações especiais da Colômbia são sigilosos. O que vem acontecendo no Rio é que, à medida que a polícia avança, como ocorre hoje com os blindados, ganha uma vantagem sobre os criminosos. Agora, chegamos mais rapidamente aos locais e com proteção. Por conta disso, os criminosos criam as dificuldades.
E são muitas as pedras que o tráfico tenta pôr no caminho das polícias Militar e Civil, para evitar a entrada dos seus 19 blindados. Depois de trilhos na pista e de muretas de concreto com aberturas por onde os criminosos atiram, a nova tática é abrir enormes fossos nos principais acessos das favelas.
Acostumados a usar mão de obra de ex-militares, bandidos passaram a adotar armadilhas ensinadas pelos manuais das Forças Armadas. O comandante do 22º BPM (Maré), tenente-coronel Amaury Simões, logo que assumiu em julho deste ano, se deparou com uma das novas táticas do tráfico: seis buracos impedindo a entrada de veículos da polícia no Parque União. As crateras - que foram tapadas em agosto, mas voltaram a ser abertas - ficam nas principais entradas da favela na Maré, dominada pela facção do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Os fossos medem 1,5 metro de extensão por um metro de largura. Ao avistarem a polícia, os bandidos escondem as placas de aço que encobrem os buracos. Agora, segundo informações que chegaram ao quartel, os criminosos estão jogando óleo nos fossos, para dificultar sua concretagem.
A polícia está preocupada com a possibilidade de os bandidos passarem a colocar explosivos nos fossos. Doutor em planejamento e história militar, o coronel Diógenes Dantas Filho diz que se trata de uma técnica especial de guerra:
- Os criminosos estão cada vez mais armados, violentos e cruéis. Eles são capazes de pôr explosivos nesses fossos, a fim de dificultar a progressão do oponente. Nos treinamentos militares, em ambiente de selva, são postos ainda pregos e varas de bambu infectadas.
O comandante do 1º Comando de Policiamento de Área, coronel Marcus Jardim Gonçalves, já anunciou que vai cobrir as crateras:
- Vamos continuar a enxugar gelo. Não é porque houve a queda de um dos nossos helicópteros (fato ocorrido em 17 de outubro no Morro dos Macacos, em Vila Isabel) que vamos recuar. A tropa é obstinada para vencer esses riscos nas favelas.
Na avaliação de Jardim, as áreas cobertas pelo 16º BPM (Olaria) e pelo 22º BPM são as mais conflagradas do Rio, por terem algumas das principais favelas da cidade. De acordo com o Censo de 2000 do IBGE, os complexos do Alemão e da Maré, juntos, abrigam 594.589 moradores. Desde junho, policiais do 22º BPM aprenderam 15 fuzis, cinco metralhadoras, cinco espingardas, 40 pistolas, 25 granadas e 22 revólveres. Dezessete bandidos e quatro PMs foram mortos.
Com a experiência de quem comandou por um ano o batalhão de Olaria, justamente durante o confronto no Alemão em 2007, Marcus Jardim classifica a região como área de treinamento do tráfico:
- Há a necessidade de enfrentar os bandidos em seus bunkers. Não tem como ser diferente. Não existe bandido comunitário, social, do bem. Não adianta passar perfume numa pessoa dessas. São esses bandidos que atiram em helicóptero.
Foi no Alemão que o Bope apreendeu, há cerca de dois anos, uma cartilha escrita à mão por um ex-militar. Na favela, eles foram checar uma informação sobre um esconderijo de armas, mas descobriram que se tratava de uma armadilha. Quando abrissem a porta do falso paiol, as granadas explodiriam. Os explosivos foram desarmados. Esse tipo de armadilha está previsto em manuais militares. Marcus Jardim lembra ainda que traficantes têm lançado coquetéis molotov contra os caveirões, além de bombas de tinta, para atrapalhar a visão dos policiais dentro dos veículos.
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