segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

''Abraço'' contra a violência

Torcedores se unem no Couto Pereira em repúdio ao vandalismo.



Pelo menos 500 torcedores do Coritiba deram as mãos para abraçar o Estádio Couto Pereira ontem, às 17 horas, com o objetivo de mostrar a força do clube, que caiu para a Série B do Campeonato Brasileiro, no ano do centenário. E, principalmente, para manifestar repúdio aos atos de violência verificados no jogo contra o Fluminense, quando torcedores, a maioria de organizadas, invadiram o campo e enfrentaram policiais militares. O confronto resultou em pelo menos 18 feridos, dos quais dois permanecem internados. "Queremos respeito à nossa tradição e história. Sabemos que vamos nos reerguer e o amor é o primeiro sentimento", disse Cláudio Ribeiro, autor do hino do clube. Foi seguido por gritos dos torcedores: "Amor, amor, amor." Ana Cláudia Barreto Sobral, de 28 anos, não suportou a emoção e deixou escorrer lágrimas que já tinha derramado no domingo anterior, exatamente o dia de seu aniversário. "O Coritiba é minha vida, é a história da minha família."Os primeiros torcedores chegaram ao Couto Pereira por volta das 16 horas, carregando instrumentos de música e não deixaram de cantar um instante. "Queremos demonstrar o amor ao clube, mostrar o lado bom", ressaltou Jilcimar Chaves, um dos organizadores da manifestação. Segundo ele, desde o jogo contra o Fluminense tem gente que sai de perto quando vê alguém com a camisa do Coritiba. "Queremos apagar isso." A polícia, que ontem não apareceu na manifestação, já prendeu 17 pessoas acusadas de participar do tumulto. "O que causou o problema domingo foi a impunidade", reclamou José Carlos Mazza. "Não é preciso inventar leis, é só cumprir o que está escrito." Com a filha Isabelle, de 8 anos, no colo, José Carlos Colaço também demonstrou seu descontentamento. "Vândalos sujaram o nome que estava tão bonito, mas nós vamos dar a volta", afirmou o torcedor, que aprendeu a frequentar o Couto Pereira com o pai. Jovem ainda, com apenas 14 anos, Aniele Nayara do Prado Chaves é taxativa ao garantir que nunca abandonará o Coritiba. A disputa da Série B não a incomoda. "Já vi esse filme antes e terminamos bem, acredito que seremos campeões." O Coritiba foi rebaixado em 2005 e voltou em 2006. A seu lado, a mesma confiança de Thais Barbosa de Almeida, de 15 anos. "Vou estar com o Coxa (apelido pelo qual o time e sua torcida são conhecidos) em que divisão estiver."Dar as mãos e mostrar a união dos torcedores - nenhum dirigente do clube apareceu na manifestação - foi uma maneira de tentar sensibilizar os auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a dar uma interpretação mais branda na acusação contra o Coritiba, que pode perder 30 mandos de campo e sofrer multa de mais de R$ 600 mil no julgamento de amanhã. "Com o amor pelo Coxa esperamos diminuir a pena", disse Renan Kulik, que não escondeu ter sentido vergonha ao presenciar a selvageria no estádio. "A expectativa é que a gente não perca todos os mandos", disse Tatiana Kubis. Bandeiras com os ídolos do clube foram espalhadas, cartazes que enalteciam o "orgulho de ser coxa-branca" despontaram e famílias esqueceram o fim do calendário para cumprir o ritual traçado quase todos os domingos em direção ao estádio. Altivir Dalavale é um desses torcedores. Ele estava ontem no Couto Pereira com a mulher Cristiane, com o filho Bruno e com o sobrinho Lucas. "Estamos aqui porque agora só depende dos verdadeiros torcedores." Em meio à festa da torcida, sobraram críticas para a diretoria. "Prometeu muito porque era o centenário, mas nos últimos jogos sentimos um abandono", reclamou Carolina Valério. O "abraço" não pôde ser completado totalmente porque o portão de um estacionamento permaneceu fechado.





Fonte: Estadão

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