sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Entre Manguinhos e o Jacarezinho, quem manda é o tráfico



Anoitece no cruzamento das avenidas Dom Helder Câmara e dos Democráticos. Os ponteiros marcam 22h37m. Hora de dormir? Não na esquina do medo. O som alto e agudo de uma buzina empurra para o meio da rua um jovem, aparentando ter 12 anos. Com uma camisa velha, bermuda e chinelos, ele parece desesperado, gesticulando para todas as direções do trânsito. Sinal vermelho para os motoristas, mas verde para o tráfico. Cinco segundos depois, uma moto sai em alta velocidade da Favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio. Na garupa da CG Titan 125 cilindradas, o bandido armado com um fuzil aponta para os carros. Ele ameaça disparar. Parece nervoso, esperando alguma reação, mas os condutores recuam. O caminho do crime está livre. A moto acelera em direção à Favela de Manguinhos.

Esse pânico faz parte da rotina. Instantes mais tarde, passa outra moto, desta vez com o traficante usando uma pistola na cintura. Para os moradores e comerciantes, uma cena comum, que se repetiu centenas de vezes durante as quatro madrugadas monitoradas pelo EXTRA. Foram 32 horas de vigília, com observação, fotografias e vídeos, na esquina que liga a localidade da Feirinha, no Jacarezinho, a uma área conhecida como Coréia, em Manguinhos. Ali, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é ainda um sonho distante. Quem manda, por enquanto, é o tráfico.
O direito de ir e vir, na esquina do medo, é determinado pelo cano de pistolas e fuzis. No local, se desenrola uma guerra fria que, para ferver, precisa apenas de uma fagulha. Pode ser a passagem de um carro da polícia, o confronto de facções, a desobediência de um condutor amedrontado ou um bandido armado e com vontade de matar.
Fonte: Casosdepolicia

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