segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Policia Civil de São Paulo - Representante dos policiais quer resgatar dignidade

Eleição quebra duas tradições: antecessores eram homens e apadrinhados pela Secretaria de Segurança.

Primeira mulher a chefiar a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp) em 60 anos de história, Marilda Aparecida Pansonato Pinheiro toma posse hoje evocando o mesmo slogan repetido durante a greve da categoria, em 2008: "Queremos resgatar nossa dignidade". Não é por acaso. Aos 54 anos, casada e mãe de três filhos, a delegada de Bauru despontou como liderança em meio a uma das mais conturbadas paralisações da Polícia Civil paulista. A eleição dela contraria a tradição da Adpesp, de escolher para a presidência candidatos apadrinhados pelo delegado-geral ou pelo secretário da Segurança Pública. Ao contrário de seus antecessores, Marilda é 3ª classe, a mais baixa na hierarquia da polícia.

A eleição da sra. é resultado da liderança que exerceu durante a greve da categoria?

Não acho que eu seja merecedora desse rótulo, de líder da greve. O pouco que conseguimos foi resultado da nossa união. Talvez eu tenha me destacado por ter organizado o movimento no interior, só isso. Seria injusto assumir o resultado para mim.

Quais as propostas para o biênio?

São 16 itens. Queremos coisas básicas, como profissionalizar o papel da associação, sem qualquer crítica aos meus antecessores. Queremos negociar com a Secretaria da Segurança Pública. Se as portas não se abrirem, não descarto novo movimento (grevista). Queremos resgatar nossa dignidade.

A imagem da Polícia Civil esteve associada a escândalos de corrupção. Como mudar isso?

Esses casos são esporádicos. Não vou entrar no mérito de nenhum deles. Mas posso garantir que nossa instituição não é formada por corruptos. O que não é bom acaba sempre aparecendo mais. Precisamos mostrar o lado positivo, os trabalhos de inteligência, a ética, o respeito. Não é mudar a imagem, mas mostrar o que a polícia tem de bom.

A instituição viveu fase de inépcia e letargia, como chegou a apontar o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto?

É difícil fazer essa avaliação. Se a polícia esteve letárgica ou inepta é preciso ver a raiz do problema.

Concorda com a subordinação da corregedoria ao secretário?

Se a corregedoria é da polícia, ela deve estar subordinada à polícia, no caso, ao nosso delegado-geral. Mas essa mudança é muito recente, não tenho elementos ou dados para dizer se melhorou. Como sou uma delegada do interior, tive até agora pouco contato com o secretário e posso dizer que ainda não consegui captar o motivo pelo qual a subordinação da corregedoria foi transferida para seu gabinete. Não posso ser leviana e nem irresponsável de dizer que é medida é ruim. Não somos radicais, mas queremos rever muitas coisas.

O que, por exemplo?

O salário. Está abaixo do que precisamos e do que merecemos.

Não será mais difícil discutir salário em ano eleitoral?

Espero que não. As coisas podem ser resolvidas ou pelo menos encaminhadas se houver vontade política. Queremos diálogo e respeito. As mudanças são importantes não só para nós, como categoria, mas para toda a sociedade.

Não há uma diferença muito grande entre o perfil do policial do interior e da capital?

Fomos eleitos para representar os delegados do Estado de São Paulo. Para quem representa a classe, essa diferença deixa de existir. Vamos ver quais são as necessidades do policial da capital e do interior.

A categoria está desunida?

Não, de forma alguma. Essa última eleição mostrou maturidade política grande. Nossa administração terá componentes das três chapas, o que mostra que estamos todos do mesmo lado.
Fonte: Estadão

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